
Professor de Cardiologia e diretor médico do Leipzig Heart Institute, na Alemanha, Gerhard Hindricks tem paixão por inovação. Portanto, não é surpresa que, em sua brilhante trajetória, ele tenha sido o responsável pelo desenvolvimento e pela implementação de novas tecnologias no campo do tratamento cardiovascular, além de líder de uma série espetacular de ensaios clínicos multicêntricos sobre novos métodos de diagnóstico e terapêuticos.
Na Sociedade Europeia de Cardiologia (ESC), o Prof. Hindricks já desempenhou diversos papeis, incluindo ser presidente da European Heart Rhythm Association e chairman das diretrizes europeias de fibrilação atrial, sendo que agora está à frente da força-tarefa “Evolução da Medicina Cardiovascular, Treinamento e Educação.”
Autor de mais de 800 artigos publicados nas maiores publicações científicas do mundo, ele é uma das presenças mais aguardadas no 77º Congresso Brasileiro/Mundial de Cardiologia.
No dia 13 de outubro, o sr. apresentará uma palestra a respeito das novas diretrizes europeias de fibrilação atrial. Por que é importante conhecer um pouco mais sobre elas?
PROF. GEHARD HINDRICKS — Essas novas diretrizes são um enorme passo na direção de diagnósticos e tratamentos muito mais precisos e personalizados para os pacientes com fibrilação atrial. Eu gostaria de mencionar duas grandes inovações. Uma delas é a introdução do método ABC, uma abordagem simples e intuitiva porque todo mundo mundo consegue se lembrar das três primeiras letras do alfabeto.
O “A" representa "avoid stroke”, evitar o AVC, por meio de uma anticoagulação apropriada. Já o “B" é de “better symptom care”, ou melhor cuidado aos sintomas. Ou, ainda, à luz dos achados do recém-publicado estudo EAST, de “better outcome”, melhor desfecho, reduzindo as complicações da fibrilação atrial. Por fim, o “C” remete às comorbidades, nas quais devemos ficar de olho, já que costumam acompanhar a fibrilação atrial. E, honestamente, acho que andamos nos esquecendo por muito tempo da importância da detecção e do tratamento correto dessas comorbidades. Hipertensão arterial, obesidade, apneia do sono e diabetes — só para citar algumas — são merecedoras de toda a atenção para melhorarmos de fato os desfechos na fibrilação atrial.
Uma segunda inovação é uma nova estratégia de caracterizar a fibrilação atrial com a abordagem dos “4 S’. Tradicionalmente dizemos que há simplesmente a fibrilação atrial paroxismal, a persistente e a persistente refratária, conforme a duração da arritmia. A caracterização “4S”, porém, descreve ainda melhor o status de cada paciente, incluindo fatores como qualidade de vida, risco de AVC e o substrato da fibrilação atrial, o que pode ter implicações na escolha da melhor estratégia de tratamento.
Na sua opinião, a saúde digital seria uma potencial solução para melhorar o acesso global ao cuidado cardiovascular? Por quê?
PROF. GEHARD HINDRICKS — A saúde digital é provavelmente a maior oportunidade de melhorar a qualidade do atendimento médico em uma perspectiva global. Em muitos lugares do mundo, vemos dificuldades significativas de acesso ao atendimento em saúde há décadas. Com a implementação de tecnologias digitais, poderemos superar boa parte delas.
Com tecnologias móveis conectadas com a telemedicina, por exemplo, seremos capazes de obter uma melhora substancial, particularmente naquelas regiões do globo onde o sistema de saúde não está adequadamente desenvolvido.
Além disso, acredito que a saúde digital também será capaz de aumentar a eficiência de investimentos no setor de saúde. Portanto, temos de dedicar maiores esforços para melhorar a aplicação de tecnologias digitais na Medicina e entendo que essa é uma grande responsabilidade das sociedades na área de cardiologia, como a SBC, ESC e, claro, a World Heart Association.
O que o sr. diria para animar médicos e outros profissionais do setor saúde a participarem do Congresso?
O congresso será uma oportunidade única de compartilhar diversos aspectos a respeito da saúde— e não apenas para clínicos e cientistas, como para companhias do setor farmacêutico, de tecnologias digitais e de dispositivos cardiovasculares. Essa troca melhora o networking e isso, por sua vez, beneficia cidadãos de todo o mundo no sentido de prevenir a doença cardiovascular — e, para aqueles pacientes que já apresentam problemas, no sentido de melhorar qualidade e a expectativa de vida. Estou ansioso por esse encontro no Rio de Janeiro e certo de que será uma conferência magnífica.
O Congresso será entre 13 e 15 de outubro no Centro de Convenções Riocentro, no Rio de Janeiro. Você pode se inscrever agora mesmo pelo link e encontrar líderes da cardiologia mundial como Gerhard Hindricks.